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DISCOS: THERAPY? (DISQUIET)

THERAPY?

Disquiet

Amazing Record; 2015

Por Luciano Cirne




Nunca consegui entender o porquê de os norte-irlandeses do Therapy?, apesar de serem cultuados na Europa, serem vítimas de preconceito por aqui. Talvez por ainda pagarem o preço de terem sido muito mal escalados no Monsters of Rock Brasil em 1995 e ficarem um show inteiro tendo que encarar uma plateia hostil gritando por Ozzy Osbourne; talvez porque seu som, apesar de simples, não é de fácil assimilação ou talvez porque, a bem da verdade, sua discografia é um pouco irregular. A verdade é que o punk rock com leves tinturas metálicas e letras sarcásticas feito por Andy Cairns e seus comparsas tem alguns defeitos sim, mas muitas coisas interessantes também, e devido a essa má vontade tanto do público quanto das revistas especializadas em rock aqui do Brasil, alguns trabalhos que mereciam uma audição mais atenta passaram absolutamente despercebidos. Só para citar um exemplo, seu disco anterior "A Brief Crack of Light" entrou em várias listas de publicações do velho mundo como um dos melhores de 2012, mas aqui ninguém deu a mínima. Provavelmente isso acontecerá também com "Disquiet", 14º trabalho da banda, o que é uma pena. 

Sério candidato a capa mais bacana de 2015 e produzido por Tom Dalgerty (que entre outros produziu os atuais queridos da crítica Royal Blood e Turbowolf), 'Disquiet' conquista os ouvintes logo nos primeiros segundos da faixa de abertura, a neurótica "Still Hurts" (não por acaso também, escolhida como primeiro single), com sua guitarra suja e pesada que remete propositalmente aos clássicos tempos de sua obra-prima "Troublegum", de 1993 - pois como o release do disco deixa bem claro, uma vez que seus dois últimos trabalhos ("Crooked Timber", de 2009 e o já citado "A Brief Crack of Light") eram mais experimentais e diversificados, resolveram que desta vez optariam por algo mais cru e direto.


Também merecem destaque as faixas "Tides", um punk pop no melhor estilo de "Nowhere", um dos seus maiores sucessos e as irônicas "Idiot Cousin" - onde Andy despeja sua raiva contra um parente que nunca o incentivou a tocar em versos como "Você não parece nada com um cantor / Aposto que vai f**** com tudo se ficar famoso" - e "Vulgar Display of Powder", a mais metálica do disco, com letra fazendo forte crítica aos usuários de cocaína. E, claro, não poderia deixar de ressaltar que o baterista Neil Cooper Ã© um monstro, talvez um dos músicos mais subestimados do cenário rock atual. O único senão que pode tornar a audição um pouco cansativa é que a ordem das músicas não ajudou, deveriam ter intercalado mais as canções rápidas e agressivas com as mais introspectivas ao invés de colocar várias lentas em sequência. Ainda assim, não é nada que um botão "random" no aparelho de CD não resolva...

A maioria das bandas com longa carreira acaba - mais cedo ou mais tarde - se acomodando e fazendo trabalhos que servem apenas para bater ponto, mas acomodação é uma palavra que os fãs do Therapy? jamais vão ouvir. Apesar de ser seu trabalho mais acessível em muito tempo (desde "High Anxiety" de 2003, não tínhamos tantas canções com potencial para virar hits em shows), ainda assim não é para qualquer um (e isso é uma coisa boa; em tempos de bandas cada vez mais pasteurizadas é ótimo ver gente que ainda tem coragem de não seguir o caminho mais óbvio). Talvez assuste os marinheiros de primeira viagem, mas como diria aquele antigo comercial da tônica Schweppes, "é preciso se acostumar". Quando você abrir a mente e absorver todas as nuances, perceberá que é um belo disco!

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