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DISCOS: NEIL YOUNG (THE MONSANTO YEARS)

NEIL YOUNG

The Monsanto Years

Reprise; 2015

Por Lucas Scaliza





Em The Monsanto YearsNeil Young coloca algumas de suas características mais notáveis novamente em um disco:

1) O novo álbum é uma forma de protesto que vai ao encontro de suas preocupações ambientais, tema sobre o qual ele vem palestrando há vários anos, desenvolvendo sua crítica social e despertando a mesma preocupação em fãs, ONGs, etc. 

2) Este é o 36º disco de sua carreira, sendo que o músico continua lançando novos trabalhos um atrás do outro. Em 2012 ele lançou o folk Americana, sobre a música de formação da América (do Norte). Naquele mesmo ano, o longo e ótimo Psychedelic Pill, ao lado da banda Crazy Horse. Em 2014 foi a vez de A Letter Home - em que gravou uma série de canções em uma cabine dos anos 40 (uma experiência vintage ao lado de Jack White) - e Storytone, um disco duplo. De um lado, músicas tocadas apenas por ele. Do outro, as mesmas músicas com arranjos de big band de jazz, orquestra com 90 músicos e banda de rock [leia a resenha AQUI]. Inegavelmente, o cara é produtivo e sempre arranja um jeito de tentar variar no que faz.

3) Neil Young tem 69 anos e continua sendo um hippie.

The Monsanto Years é um álbum político do começo ao fim. Chevron, Starbucks e a própria gigante Monsanto estão no rol de companhias citadas e criticadas diretamente pelo músico-ativista. Para essa empreitada, ele convidou a banda de Los Angeles Promise Of The Real, comandada por Lukas Nelson, filho de Willie Nelson. Micah Nelson, o outro filho, também participa. Após Young e a banda de Lukas tocarem juntas em um evento de caridade (para ajudar a levantar fundos para fazendeiros americanos) no ano passado, fizeram algumas jam sessions e começaram a gravar um novo disco em janeiro de 2015. O local escolhido foi o Teatro in Oxnard, na Califórnia, local em que Willie Nelson gravou seu álbum Teatro, antes de o local se tornar um cinema. As gravações com toda a banda ocorreram em abril e um filme sobre isso deve sair em breve.

Apesar de toda a habilidade musical dos envolvidos, The Monsanto Years é, musicalmente falando, uma repetição de tudo o que Neil Young já fez. Sejam os álbuns dos anos 70 ou os mais recentes, tudo soa como Neil Young. As pequenas invencionices e mudanças de formato que ele propõe não conseguem fazer sua música soar diferente, mais original ou se reinventar. Digamos que Young não é Gal Costa.

As nove faixas ao lado da banda Promise Of The Real são puro Neil Young: acordes simples na maior parte do tempo, ritmos gostosos, bons solos de guitarra, músicas bem previsíveis, mas com o bom gosto de sempre do canadense. Temos o rock clássico, estilo Tom Petty, de “New Day For Love”, “People Want To Hear About Love” e “Monsanto Years”, o folk de “Wolf Moon”, o rock rural de “Rock Star Bucks Coffee Shop”, o country de “Workin’ Man”, a arrastada “If I Don’t Know”, a enérgica “Big Box” e o rock rústico “Rules of Change”. Quem já ouviu algo de Neil Young, nem que seja algum “the best of” dele, vai reconhecer sua voz e sua forma de compor sem dificuldade. É um rock bem básico, sem afetação.

Contudo, a música quase não chama a atenção. Parece mais uma redundância de tudo que o músico já fez. Às vezes, soa até como se a gravação e a mixagem não tivessem sido bem feitas, dando um aspecto bastante insosso a algumas músicas. O foco fica, assim, sobre as letras.

Neil Young não mostra o poder poético e nem habilidade com as palavras de um Sufjan Stevens ou Bob Dylan, mas vai direto ao ponto e dissemina mensagens contra o agrobusiness ao longo de todo o álbum. Às vezes a letra cai bem, às vezes falta um polimento, já que nem sempre ele cria imagens literariamente interessantes. É protesto e tem alto teor político, mas aproxima-se muito do panfletário também.

Em “Monsanto Years” ele dispara diretamente contra a companhia com versos ácidos como: “Quando as sementes nascem, estão prontas para o pesticida/ E a Roundup vem e traz a maré de veneno da Monsanto” ou “As sementes da família que eles costumavam guardar era presentes de Deus, não da Monsanto/ Seus filhos ficam doentes perto das colheitas envenenadas/Enquanto trabalham, não conseguem encontrar um jeito simples de parar a Monsanto”.

Já em “Rock Star Bucks A Coffee Shop” ele diz que não vai tomar café na Starbucks, pois a empresa usa GMO (organismos geneticamente modificados) provindos da Monsanto. E manda: “Dos campos do Nebraska aos bancos de Ohio / Os fazendeiros não serão livres para cultivar o que quiserem/ Quando o controle corporativo toma a fazenda americana/ Com políticos fascistas e gigantes químicos andando de mãos dadas”.

Em “Workin’ Man” e “Rules of Change” ele fala de como até mesmo juízes da Suprema Corte dos EUA estão enredados na teia de influência e interesses dessas grandes companhias. E na potente “Big Box” Young canta mais um pouco sobre como governos, leis e democracia está corrompida pelo dinheiro. “Eles não querem cair, e quando caem, caem em você/ Muito grandes para falhar, ricos demais para ir pra cadeia”.

Apesar da doçura, “People Want To Hear About Love” é bem cáustica, sobre como a população prefere os temas água-com-açúcar e ignorar o que ocorre nos bastidores, mesmo que isso tenha impacto sobre a vida de milhões.

De ativista, The Monsanto Years corrobora de uma vez por todas a posição de Neil Young como um idealista, um tipo de guerreiro hippie percorrendo o século 21, empunhando sua guitarra contra um gigante moinho de vento que espalha sua química pelo planeta todo. Será que ele tem alguma chance?

A banda Muse fez de Drones um álbum conceitual sobre o controle que governos, corporações, a guerra e “forças ocultas” exercem para transformar a todos em drones [leia a resenha AQUI]. Mas a mensagem vem embrulhada de rock de arena e música pop, o que transforma o teor crítico do assunto em um produto de entretenimento. O caso de Young é parecido, mas seu novo trabalho está muito mais a serviço da causa do que da arte (e do entretenimento). Será que sua mensagem fará alguma diferença?

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