Hardcuore Fest foi o triunfo do bem e do 'bom rock' no Circo Voador
Foto: Guto Jimenez
Circo Voador recebeu evento beneficente para ajudar irmã de Gabriel Thomaz |
Shows beneficentes sempre são uma ótima ideia, pois você assiste a bons espetáculos de bandas que normalmente não tocariam juntas e, ao mesmo tempo, ajuda a promover o bem de alguma forma. Com um line up que incluÃa o retorno dos MC’s HC, a energia dos Autoramas e a porradaria sonora e ideológica do Planet Hemp, além da discotecagem do mÃtico DJ Marcelinho da Lua, a noite do Circo Voador tinha tudo pra ser inesquecÃvel. E assim o foi!
O objetivo do Hard Cuore Fest foi de arrecadar fundos pro tratamento médico de Layana Thomaz, estilista e irmã do Gabriel Thomaz (do Autoramas). Uma figura constante na cena carioca, ela já desfilou no Fashion Rio com sua grife própria e atualmente é a responsável pelo projeto itinerante ALoja. Só pra você entender a gravidade do problema, ela nasceu com uma condição congênita no coração que já a levou a três cirurgias cardÃacas; como se isso não bastasse, ela ainda enfrenta uma endocardite bacteriana na válvula pulmonar do coração. Infelizmente, não adiantou ter um bom plano de saúde, que covardemente não cobriu os custos absurdos do tratamento, muito menos acionar o próprio plano, o SUS, a ANS ou o ministério da saúde na justiça. Ela tinha de fazer o tratamento, que foi realizado na marra e cujos custos beiram a absurdos R$ 450 mil em valores atualizados; parte da dÃvida foi paga com uma vaquinha entre parentes e amigos, bazares beneficentes e um show em SP, mas a conta estava longe de fechar. O hospital joga duro, cobrando aquilo que lhe é devido com toda a falta de habilidade que é caracterÃstica dessas instituições nessas ocasiões... O que fazer?
Amigo dos irmãos Thomaz há mais de 20 anos, BNegão resolveu organizar um show no Rio com alguns músicos também amigos que se dispuseram a ajudar a causa. Naturalmente, um espetáculo desse tipo só poderia acontecer em um único lugar, e que sempre teve iniciativas voltadas à comunidade nos seus mais de 30 anos de história: o Circo Voador. Todos os músicos abriram mão dos cachês – apenas as equipes técnicas receberam metade do que receberiam -, não rolaram listas amigas ou de VIPs e o objetivo era um só, o de fazer o bem a uma pessoa de bem.
E tome música da melhor qualidade pra isso! Abrindo os trabalhos e entretendo o público nos intervalos dos shows, o gênio das carrapetas Marcelinho da Lua serviu uma porção farta de seu vasto conhecimento musical e da arte de manter a galera agitando sem parar. Sou muito suspeito pra falar por ser um antigo fã do cara, um dos poucos que misturam artistas tão diferentes como Linton Kwesi Johnson (em música e spoken Word), Tim Maia em versão drum’n’bass e Easy-E num mesmo set com total coerência e fluidez. O resultado? Gente se sacudindo a noite inteira, seja sob a lona ou do lado de fora.
Foto: Guto Jimenez
Show marcou o retorno do MC's HC no palco do Circo Voador |
Foto: Guto Jimenez
Autoramas no palco do Circo Voador: diversão garantida |
Foto: Guto Jimenez
Planet Hemp em mais um show histórico no Circo Voador |
Simbolicamente, a banda subiu ao palco no mesmo dia que o nefasto corrupto Cunha foi afastado do congresso nacional - minúsculas propositais aqui -, e é evidente que esse e outros fatos não passariam batidos pelas interferências sempre politizadas dos caras entre as músicas. BNegão assumiu o seu melhor lado de MC e esculachou a tudo e a todos os que mereceram, dando um tempero todo especial ao repertório mais do que conhecido deles: só pra se ter uma ideia, “Porcos Fardados” foi dedicada ao "boçal-mor" Bolsonaro, o mito dos imbecis, ”Zerovinteum” veio em homenagem aos cinco menores desarmados mortos com 120 tiros pela PM carioca no inÃcio desse ano e os jardineiros alternativos foram lembrados em “Não Compre, Plante”. Todas as músicas que vem agitando toda uma geração, como “Ex-quadrilha da Fumaça”, “Dig Dig Dig”, “Phunky Buddha”, “Queimando Tudo”, “Fazendo a Cabeça”, “A Culpa é de Quem”; pedindo licença pro uso de mais um clichê, a apresentação foi tão incendiária que a pogação rolou solta até mesmo durante “Quem Tem Seda?”, de levada mais suave.
Não faltaram covers, naquilo que foi definido como “hardcore mesmo”: “Crise Geral”, hino do Ratos de Porão, e “Seus Amigos”, da histórica banda carioca Serial Killer, que já fazem parte do repertório da banda. O momento de maior emoção foi quando Layana Thomaz foi chamada no palco pra agradecer ao público pela presença num show tão especial, que foi seguida por uma emocionante interpretação de “Samba Makossa”, de Chico Science, dedidada a ele e a outros que já subiram para o "Grande Palco", como Skunk, Chorão e Bezerra da Silva. Pra finalizar e fechar o pacote com laço de fita dourada, “Mantenha o Respeito” e “Legalize Já”, dois hinos que fazem a cabeça de gente de todas as idades com pogação elétrica até o último acorde.
Pra finalizar, é preciso dizer que não teria sido possÃvel realizar uma noite formidável como essa se não fosse pelos esforços e pela extrema dedicação de dois caras fundamentais pro cenário musical do Rio de Janeiro: Bernardo BNegão e Alexandre Rossi, o “Rolinha”. Graças a esses dois camaradas em especial, a Layana pode contar com um alÃvio em seu coração guerreiro e todos nós pudemos apreciar a espetáculos sensacionais que irão ficar gravados na nossa memória pra sempre. Parabéns e muito, muito obrigado!
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