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Em exclusiva, Pato Fu diz: 'Não queremos ser uma banda que só vive de nostalgia'

Foto: Divulgação
Pato Fu divulga seu novo trabalho, "Não Pare Para Pensar"
Por Bruno Eduardo

Ao longo de seus mais de 20 anos de carreira, o Pato Fu é uma das bandas brasileiras mais fiéis às suas origens. Desde o intricado "Rotomusic Liquidificapum" - que acabou atraindo a atenção de uma grande gravadora - até hoje, onde divide seu tempo entre shows de rock e apresentações com instrumentos de brinquedo (no sensacional Música de Brinquedo), a banda formada por Fernanda Takai, John Ulhoa, Ricardo Koctus, Glauco Mendes e Lulu Camargo continua seguindo seus instintos - sempre alternativos - para continuar em frente. Ao todo, são dez discos de estúdio e várias condecorações, chegando ao ponto alto em 2001, quando participaram da terceira edição do Rock in Rio e foram apontados pela revista Time como uma das dez melhores bandas do mundo. Para não serem confundidos com uma banda nostálgica, eles seguem divulgando seu último trabalho "Não Pare Pra Pensar". Conversamos por telefone com o guitarrista John Ulhoa, que falou sobre a carreira do grupo e garantiu que a banda continua cheia de gás para novas investidas.    

O último disco, "Não Pare Pra Pensar", tem uma veia mais roqueira. Sendo assim, ele é mais rock and roll clássico, se comparado aos principais trabalhos do Pato Fu. De onde veio essa vontade de fazer algo mais tradicional? 

Verdade. Talvez ele seja mais rock. A gente quis voltar à origem barulhenta, lá do início da carreira. O fato de estarmos fazendo o 'Música de Brinquedo' em paralelo, nos deu essa necessidade de fazer algo mais crú. O nosso disco anterior ("Daqui Pro Futuro", de 2007) era muito menos adequado para tocarmos ao vivo, então resolvemos fazer um trabalho que tivesse um formato mais adepto aos palcos, que fosse mais direto.

Alguns veículos chegaram a dizer que ele sinaliza uma divisão sonora entre você e Fernanda. Você concorda?

Ah cara, eu não concordo com isso. Não tem divisão. Tem muita gente que faz essa separação por ela ter o trabalho dela além do Pato Fu, e por ter uma outra pegada, mais particular dela. Mas talvez as pessoas não saibam que eu adoro o que a Fernanda faz e ela adora o que eu faço também. Então quando a gente faz algo juntos, é juntos mesmo. Foi um disco em comum acordo.

Vocês são conhecidos por sempre priorizarem os discos novos nos shows. E isso também vinha acontecendo no início da turnê. Agora, que vocês estão voltando em algumas cidades, continuam dando prioridade para o último trabalho?

Com certeza. Como eu disse antes, ele é um disco totalmente feito para shows. Há várias músicas dele que funcionam muito melhor do que outras de discos anteriores. Então nós vamos continuar priorizando ele, mas lógico, não esquecendo de outras bem pontuais de nossa carreira também.

O 'Música de Brinquedo' influenciou diretamente na audiência de vocês, já que ele foi responsável por incluir um novo público, trazendo crianças à plateia. Ele continua tendo esse mesmo impacto nos dias de hoje?

Com certeza. É um disco que dura mais tempo. Ele tem uma vida útil muito maior que os outros discos que lançamos. Tanto que ele continua vendendo muito bem e tendo vários convites para shows. Mas é importante dizer que ele não trouxe apenas crianças para o nosso público. Muitos adultos, entre eles, os pais dessas crianças, que não gostavam do nosso trabalho, ou que talvez não conhecessem, acabaram sendo conquistados com em esse disco. O 'Música de Brinquedo' ampliou o nosso público fora do segmento clássico do rock, e isso é ótimo, pois renova a nossa audiência.
Foto: Divulgação
Pato Fu no formato 'Música de Brinquedo', sucesso entre todas as idades
O 'Ruído Rosa' é um disco muito querido e lembrado pelos fãs. Ele está completando 15 anos. Vocês pensam em fazer algo com este disco, como shows especiais?

Como a gente tem um monte de discos, se a gente for pensar em fazer algo especial sempre que um disco completar 15, 20 anos, a gente não vai parar de fazer especiais (risos). Mesmo porque, eu não sei se o Ruído Rosa tem isso de disco chave de nossa carreira para ter algo assim. Ao contrário do 'Gol de Quem?', que deu o contato do Pato Fu com o público. E por isso, nós chegamos a fazer na íntegra esse show em São Paulo com o "Gol de Quem?". Foi uma experiência diferente, mas muito gratificante.

Mas como já virou moda, isso de fazer shows de discos na íntegra, a gente pergunta...

Sim, e eu acho incrível. Mesmo sendo moda ou não. Mas a gente toma muito cuidado para não viver muito de nostalgia. Nós temos muito receio de sermos vistos como uma banda que vive aí só de nostalgia. A gente gosta de estar sempre valorizando a nossa presença artística, criando coisas novas, fazendo ideias acontecerem. Somos uns velhinhos cheios de gás (risos).

Já que falamos de nostalgia, o show do Rock in Rio também completa 15 anos. Como foi tocar naquele dia de Guns N' Roses e Oasis?

Cara, já passou 15 anos... Parece que foi ontem. Ficamos muito ansiosos esse dia. Estávamos um pouco tensos também, já que a repercussão é geral. Um pequeno erro e isso se tornaria uma coisa super negativa para a gente. Tinha também o fato de ser um dia que a plateia era toda de Guns. Você entrava no palco e só ouvia aquele coro: "Guns N' Roses, Guns N' Roses". Você viu o que aconteceu com o Carlinhos Brown, né?

Ele foi no dia seguinte, né?

Isso. Ele tocou no dia seguinte, mas a gente vivia nos bastidores e aquilo chegava para você de uma forma direta. Mas não ficamos com medo disso não. Não era novidade tocarmos com bandas mais pesadas. Tanto que naquele show, escolhemos colocar as músicas mais pesadas no início e o show acabou fluindo bem. Para ter noção da proporção midiática do Rock in Rio, aquela foi a única vez que aparecemos no Jornal Nacional. A Fernanda machucou o dedo no show, e isso saiu em tudo quanto foi capa de jornal. Tipo: "Pato Fu dá o sangue pelo rock", coisas assim. Fico imaginando o William Bonner falando isso no Jornal Nacional (risos).
Foto: Reprodução TV
Pato Fu no Rock in Rio em 2001: vencendo a ansiedade dos fãs de Guns N´Roses
Vocês viveram a geração anos 90, que contou com a força das grandes gravadoras. Mas assistiram também esse mercado sucumbir, principalmente pela chegada da internet. Como você analisa esse novo cenário de hoje?

Na nossa época a gente não teve escolha. Ou você fazia parte de uma grande gravadora ou não conseguiria uma proporção nacional do jeito que nós conseguimos. Naquele tempo a gravadora era como um "gol" para o artista. Atualmente isso não é mais um caminho. Só se a gravadora aparecer com um contrato novo, com novas opções, pois hoje é muito desvantajoso. Mas é algo difícil de acontecer, porque nem eles estão mais ganhando dinheiro com discos. Felizmente a gente já tinha uma carreira quando houve essa mudança no mercado. Então só tivemos que nos preocupar em fazer uma manutenção.

E como você vê as novas bandas que estão surgindo hoje, em uma época que todo mundo é independente?

Hoje é muito mais difícil. Eu vejo uma dificuldade da banda autoral se profissionalizar. Porque cover a gente sabe como funciona, mas autoral é muito mais complicado. A gente até vê um monte de bandas legais, mas que precisam viver de coisas pontuais, como um festival, uma campanha, uma lei que dê apoio. E nessas bandas, os caras ainda precisam ter outro emprego para pagar suas contas. Além do mais, hoje tudo é complicado para o artista. Gravadora tá complicado, ECAD tá complicado, até Lei Rouanet é vista como uma coisa errada pelas pessoas. O que sobra? 

Há quem diga que o artista ganha dinheiro é com shows. Ainda tem o streaming...

Streaming dá uma merrequinha, mas ainda está longe de ser algo que o artista possa viver. E sobre show, há realmente essa máxima de que "artista ganha dinheiro com show". Mas show só dá grana quando você está bem. Um artista novo tem muito mais dificuldade nesse aspecto. O que podemos dizer, é que o modelo atual ainda não está pronto.
Foto: Divulgação
Fernanda Takai no sofá com os outros integrantes do Pato Fu

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