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DeFalla e Cachorro Grande no Imperator: uma noite para os bons!

Foto: Nem Queiroz
Edu K resumiu o show no Imperator como um ensaio com público 
Por Bruno Eduardo

Uma coisa é certa: você não pode achar que já viu tudo quando se trata de DeFalla. Podem passar dez, vinte anos e em algum momento eles vão acabar te surpreendendo (seja para o bem ou para o mal). Quem acompanha os passos sinuosos de Edu K, sabe que dele não se pode esperar quietude, muito menos permanência em qualquer zona de conforto. Muitas vezes, o que pode ser algo simples vai acabar beirando o imprevisível, capaz de confundir a cabeça até dos mais descolados. O show desta noite foi um grande exemplo de quão complexa e instigante pode ser a experiência de assistir o grupo ao vivo. Para quem esperava um show com a formação clássica tocando o disco novo, se deparou com uma espécie de mutação - ainda imprevisível e crua - do que venha a ser o novo DeFalla, que agora surge como um trio (Edu K, Castor Daudt e o baterista Vandinho Carvalho). 

A mudança não foi apenas na formação da banda. Sonoramente, a transformação da cartilha também foi brutal. O grupo optou em utilizar baixos pré-gravados, com batidas em tracks e um repertório digno de uma mixtape (sem pausas) dividida em três módulos. No primeiro (round) eles apresentaram uma junção mais hip hop, calcada na vibe do disco Kingzobullshit - enxertada de versões particulares para clássicos do rock, como a já conhecida "Satisfaction" dos Stones, e outras novidades, como "Epic" do Faith No More, que funcionou muito bem na voz de Edu. A abertura com a ótima "Zen Frankenstein" deu passagem para o disco 'Monstro', que foi melhor representado na segunda parte do show, numa seqüência de três canções, com destaque para "Timothy Leary", que poderia nesta noite ter a participação ao vivo de Beto Bruno, já que ele canta no disco. A banda também mencionou uma de suas grandes influências, os Chili Peppers, numa versão totalmente desconstruída de "Give it Away". Já no round final, o DeFalla relembrou as classudas "It's Fucking Boring To Death", "Screw You" e "Popozuda Rock And Roll". Considerando todas as colagens e conversões sonoras desse novo formato, vale destacar o timbre de guitarra de Castor, que precisou podar um pouco a virtuose para segurar as bases, e também a desenvoltura do novo baterista, que se viu num cenário complexo e emergencial, e mesmo assim se virou como poucos. 

Mas que impressionou neste show, é o fato do DeFalla, mesmo nas situações mais adversas, sempre tentar dar um passo à frente do óbvio. A cartilha reza, que em casos de baixas de integrantes, o mais indicado seria arrumar substitutos e seguir o roteiro (para garantir). Mas se tratando de Edu K e companhia, isso nunca será uma opção. O que importa mesmo - independente das situações mais caóticas - é ter mais uma oportunidade para o grupo tentar se reinventar de novo, nem que isso cause desconforto ou confusão na cabeça de seu público. Quem entendeu, curtiu.

Foto: Nem Queiroz
Beto Bruno e Krieger (fundo) esquentaram o palco do Imperator
O Cachorro Grande trouxe ao Rio a turnê de seu novíssimo disco, Electromod, segundo de uma trilogia dedicada ao eletrônico. Mas no palco os caras são puro rock, quase progressivos - com solos virtuosos, canções estendidas em dez minutos, duelos de instrumentistas e claro, todos os hits fundamentais do grupo. Mesmo que o público não fosse dos maiores, a banda de Beto Bruno incendiou o palco, e fez um show que fatalmente será lembrado em algumas listas de melhores do ano.

A banda abriu com "Tarântula" e seguiu firme o ritmo eletro com a polêmica "Electromod", onde Krieger, em exclusiva ao Rock On Board, diz se tratar de uma piada que critica os "tiradores de selfie em manifestações". A força do repertório do Cachorro Grande aparece em pencas de boas canções, como "Desentoa", "Deixa Fudê" e, principalmente, "Como Era Bom", de teclado marcante. Entre as várias saídas de Beto Bruno, tanto Gross quanto Krieger tomavam o prumo do barco em viagens instrumentais de tirar o chapéu. Lá atrás, o tecladista Pedro Pelotas também não ficava por baixo, e desafiava seus companheiros em vários solos à la Jon Lord. Na única participação especial do show, o baterista Raphael Paci da banda HighJack sentou no lugar de Gabriel Azambuja para tocar o clássico "Dia Perfeito". Entre outros grandes momentos do show, ficaram as versões de "Roda Gigante" (com mais um grande dueto baixo / guitarra) e "Bom Brasileiro", com Beto Bruno dedicando a música aos cariocas e ao Rio de Janeiro.

Para variar, a banda deixou alguns hits para o final do show, como a balada "Sinceramente" e a ótima "Lunático". E desprezando o setlist original, voltaram para um bis pontual na sempre indispensável, "Você Não Sabe O que Perdeu" - que não pode nunca ficar fora de um repertório. Um showzaço, resumido de forma certeira pelo vocalista no final da apresentação: "só os bons vieram!". Que venham sempre!

Foto: Cleber Jnr.
Edu K, Vitor Carvalho, Kauan Calazans, Castor Daudt e Paulinho Barros
No camarim do Imperator ainda rolou um encontro bacana entre a banda carioca Folks - um dos expoentes da nova cena rock carioca - e a galera do DeFalla. O assunto de pauta entre as duas bandas foi a música "Não Me Mande Flores", gravada há quase trinta anos pelo DeFalla e que agora ganhou uma nova versão no ótimo disco de estreia da banda carioca. O vocalista Kauan Calazans falou sobre os motivos que levaram o grupo a regravar a faixa, e, ainda lamentou o fato do DeFalla ter desistido de tocá-la no show desta noite (ela estava no repertório original e acabou não entrando). "Na hora a gente achou melhor não tocar", disse Castor, que em seguida elogiou a arte de capa do disco da Folks. "Cara, pirei nessa capa!". Antes de descerem juntos para assistir ao show do Cachorro Grande, as bandas ainda trocaram uma ideia sobre o atual momento do mercado fonográfico, como a importância de gravar um disco físico nos dias de hoje e falaram sobre as discografias virtuais, que hoje dominam as plataformas de streaming. Resumindo: um belo encontro de gerações!

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