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Discos: Kings Of Leon (Walls)

Kings Of Leon soa mais renovado em "Walls", seu sétimo disco
KINGS OF LEON
"Walls"
Sony Music; 2016
Por Lucas Scaliza


Uma banda renovada. Definitivamente, o novo disco do Kings Of Leon é menos caipira, menos rock rural, e mais moderninho e urbano. Mesmo quando uma música tenta mostrar as características mais marcantes da banda – como os fills e solinhos de guitarra de Matthew Followill em “Waste A Moment” –, a canção acaba nos remetendo a outras referências que não são exatamente os seis discos já lançados pela família Followill. No caso de “Waste A Moment”, ela chega ao refrão como o U2 chegaria. Já “Reverend” e “Over” mostram a banda realmente explorando um novo horizonte musical. Mas como repreendê-los? 

A explicação para tal mudança na sonoridade é a crise que a banda enfrentou após os fenômenos “Sex On Fire” e “Use Somebody” de Only By The Night (2008), disco que mais vendeu do quarteto. As vendas de discos caíram vertiginosamente nos lançamentos seguintes – passando de 2 milhões de cópias para menos de 400 mil no ótimo Mechanical Bull (2013). Chegava o momento de repensar os rumos da carreira para ganhar a atenção do público e, quem sabe, não ser mais um refém de “Sex On Fire” nos shows. Uma das saídas foi romper com o antigo produtor, Angelo Petraglia, e contratar Markus Dravs, o mesmo responsável pela transição do Coldplay, que foi do indie rock ao pop. A escolha de Dravs deixou claro que o Kings Of Leon buscava mudança.

Sendo assim, WALLS reposiciona a banda musicalmente. O álbum limpa os trejeitos mais sulistas do grupo - tornando-os mais palatáveis para um público de festivais - e tira do mapa as guitarras incendiárias de Mechanical Bull. No entanto, a banda sai da zona de preguiça que marcou Come Around Sundown (2010). Em Walls, o Kings Of Leon não soa como uma banda nova, mas renovada, disposta a apostar em ideias mais frescas. Daí temos a dançante “Around The World” com uma guitarrinha estralada que lembra Cindy Lauper, uma linha de baixo de Jared que é uma delícia, e a mão de Dravs fazendo uma progressão de notas no refrão que é muito parecida com a técnica usada em Reflektor, do Arcade Fire. E temos também “Muchacho” que impressiona por não tentar ser mais do que uma música agradável, passando do melancólico ao simpático com uma suavidade que não é (ou não era) o forte da banda.

Faixas lentas e que costumavam criar um clima etéreo com notas longas de guitarra foram substituídas por baladas mais convencionais, como “Conversation Piece”, em que o teclado de Dravs novamente dá as caras, acompanhando o dedilhado manjado, mas bonito, de Matthew. E “Walls”, que fecha o álbum, é uma das melhores canções já gravadas pela banda. Uma balada levada por violões e percussão que imita as batidas de um coração. Exige paciência do ouvinte. Chega ao final como uma lagarta que se liberta do casulo para se mostrar uma borboleta. Tem a guitarra característica de Matthew e a letra é sobre o fim de um relacionamento, mesmo depois de muita luta para manter o amor vivo. Escolhida como uma dos singles do disco, demonstra certa coragem da banda e confiança no próprio taco.

Além de reposicionar a banda, uma das conquistas de Dravs e do Kings Of Leon foi aumentar a resposta emocional das músicas com um novo jeito de pensá-las e escrevendo letras sobre suas intimidades. Embora seja um disco mais curto do que os antecessores, entretém bastante e a produção não é tão carregada que possa descaracterizar a banda (o sintetizador em “Find Me” quase passa despercebido e “Eyes On You” é perfeita para o quarteto tocar ao vivo). Não abandonam o rock, mas há sacrifícios nesse departamento também.

De certo modo, acabam sendo mais homogeneizados pela necessidade de voltarem a ser relevantes comercialmente. Contudo, mesmo não sendo o mais original possível, WALLS é uma volta digna. Toda a delicadeza que não encontravam mais nos últimos discos, encontraram nas letras mais confessionais, no novo produtor e gravando de novo em Los Angeles, no mesmo lugar em que foram feitos Youth & Young Manhood (2003) e Aha Shake Heartbreak (2004). Uma mudança de ares que fez bem aos Followill.

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