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Mesmo com chuva, Hell in Rio foi uma celebração digna ao metal nacional

Foto: Nem Queiroz
Público se diverte em rodas de pogo no Terreirão do "Rock"
Por Rom Jom

Com uma proposta de apresentar apenas bandas nacionais e com uma estrutura de qualidade, o Hell In Rio fez sua estréia na Cidade Maravilhosa neste último final de semana. Ao todo foram dois dias de muitos shows (bons e de várias vertentes – do rock ao metal) num lugar que sempre foi reduto do samba, o Terreirão do Samba, localizado bem ao lado do então Sambódromo.

A estrutura não poderia ser melhor. O palco tinha uma distância e altura ótimas para o público e podia ser visto facilmente de qualquer lugar, além do som estar muito bom, quando era bem equalizado (no decorrer da matéria vamos falar sobre isso). O local contou com diversas tendas para comida a preços mais acessíveis do que os encontrados normalmente na rua, além da cerveja patrocinadora do evento por R$ 5,00. O espaço é amplo e cabem facilmente 15.000 pessoas, apesar da produção ter calculado em torno de 5.000 para cada dia. Por conta da chuva, daquelas que não dão trégua nem mesmo por 1 minuto, o primeiro dia do festival teve um público pouco abaixo do esperado. De acordo com a produção, tivemos em torno de 3.000 pessoas, e no segundo dia, quando a chuva resolveu ir embora, 4.000. Por ser um lugar pouco explorado para este estilo de som, sendo o primeiro evento de rock/metal a desfilar por aqui, até que o resultado de público foi razoável. A mobilidade urbana é excelente, bem próximo do metrô, trem e terminais de ônibus para todas as zonas da cidade. Realmente foi uma iniciativa importante para este estilo. Facilmente poderia se realizar shows maiores neste lugar.

Importante frisar que haviam muito banheiros disponíveis e tudo de fácil acesso assim como a entrada e saída do evento bem amplas. Até mesmo as tendas de emergência, que foram muito usadas por conta da bebedeira de alguns.

SÁBADO

O primeiro dia de festival foi marcado com muita chuva (mas muita mesmo!), o que deve ter deixado a produção um pouco apreensiva quanto ao público - que chegava muito lentamente ao local. Tanto que a primeira banda, a Reckoning Hour, tocou pontualmente as 16:30 (não houve atrasos nas apresentações desse dia!) e para poucos presentes. A banda apresentou uma boa performance, com destaque para a já conhecida, e excelente, "Eye For Na Eye". A Perc3ption veio em seguida e também sofreu com a falta de público, mas não fez feio. A banda possui um prog metal que agrada um público bem seleto, como na ótima "Surrender", e chegou a apresentar uma música do novo álbum “Magnitude 666” (muito boa por sinal), que mantém as características do grupo com destaque ao peso das guitarras. 

Quando a chuva começou a dar uma trégua veio Satanico Dr Mao e os Espiões Secretos, que trocando em miúdos, é nada mais do que a lendária banda punk paulista Garotos Podres, e bem enfatizada por seu vocalista, e então remanescente - assim como o guitarrista Cacá. O som estava péssimo, alternando de volume a todo momento e muito mal equalizado. A guitarra também estava desafinada e faltou pegada punk ao baterista. Mesmo assim, clássicos não faltaram: "Papai Noel Velho Batuta", com direito a gorro de Natal com o Mao, "Anarkia Oi!" que fez muito marmanjo relembrar o punk dos anos 80, "Johnny", que na época da ditadura foi censurada, e ainda teve tempo para um som novo do ultimo álbum “Contra Coxinhas Renegados Inimigos do Povo” intitulada "Um grito em meio a multidão".

Foto: Nem Queiroz
Henrique Fogaça também é jurado do programa de TV,  Master Chef
Com o cessar da chuva, o público começou a chegar em maior quantidade ao Terreirão, e liderada por Henrique Fogaça (o famoso cozinheiro do Master Chef), o Oitão sobe ao palco com um som pesado, oriundo do punk oitentista, com influencias que lembram Ratos de Porão - citado no fim da apresentação com um cover de "Vida Ruim". Mas se você pensa que a banda só conseguiu destaque por conta da fama de seu vocalista, te digo que estás redondamente enganado: o Oitão é de uma competência ímpar, com destaque para a bateria feroz de Marcelo BA. Com discurso politizado, eles desfilaram agressividade e ótimas canções, como "Pobre Povo" e "Tiro na Rótula" (que de acordo com Fogaça, foi a primeira música da banda). "Faixa de Gaza" é outra que também merece destaque pela sua execução cheia de peso, barulho e rapidez - tudo isso, refletido sempre em enormes rodas de pogo. O fato, é que foi no Oitão que o público começou a chegar mais perto do palco e curtir o festival de verdade. 

Talvez faltem adjetivos para explicar o peso da apresentação do Claustrofobia. Já não é de hoje que o quarteto paulista apresenta um thrash metal violento e de qualidade inigualável. O grupo conseguiu fazer jus ao nome do festival com show 'infernal'. "General World Infection" e "Bastardos do Brasil" iniciaram o show com muita violência. Difícil também é o termo correto para definir o peso dos riffs, principalmente em faixas como "Metal or Die" ou na energética "Metal Maloka". Já o Dead Fish soou como a banda “diferente” do dia. Só que com mais de 25 anos de estrada, a banda não se afrontou e rapidamente impôs sua cartilha hardcore. O público se bateu (no bom sentido) e curtiu o show. Aproveitando-se das letras altamente politizadas, Rodrigo Lima não se conteve, e falou dos resultados da eleição para Prefeito da cidade. Foram 22 músicas sem qualquer intervalo, passando por praticamente toda a carreira do quarteto capixaba. "Urgência" deu início a pauleira e foi logo emendada com "Tão Iguais". Dos primórdios da banda, do álbum 'Sonho Médio' (1999) tivemos "Hoje", mas o grupo deixou de fora a ótima "Mulheres Negras". "Desencontros" agitou os mais 'paradões' e ainda tivemos "Proprietários do Fim do Mundo", que é o tipo de música que a letra sempre será atual, e a forte "Procrastinando", do último álbum (Vitória). O Dead Fish fechou o bom show com “Afasia”.

Foto: Nem Queiroz
Rodrigo Lima e seus saltos acrobáticos no show do Dead Fish
Antes da grande atração da noite, o Almah fez um show sem muitas surpresas e com todos os clichês do metal melódico. Edu Falaschi, que já foi do Angra, apresenta ótimos vocais como na abertura com "Age of Aquarius". E por falar na sua antiga banda, em "Nova Era" do álbum 'Rebirth', teve a participação do atual vocalista Fabio Leoni. Temos de admitir que essa é uma das melhoras canções do Angra. Foi um show honesto que preparou o público para o que vinha a adiante. Headline da noite, o Sepultura, apresentou a sua turnê de aniversário de 30 anos. O que dizer da maior banda de metal brasileiro? Talvez nada. Ainda mais pela apresentação que estava para acontecer. Nada mais do que "Troops of Doom", com uma bateria mais pesada, forte e cruel do que a original, fruto de Eloy Casagrande e sua técnica absurda que dispensa comentários. A carreira da banda reúne tantos clássicos que fica difícil de compactar tudo, mas "Territory" e "Refuse/Resist" não faltaram, esta última, ainda mais agressiva - se é que isso pode ser possível. Derrick se firma cada vez mais como o frontman de atitude e presença. "Beneath the Remains" e "Arise" se fizeram uma sequencia animal. Andreas anunciou "I am the Enemy" como faixa do novo álbum Machine Messiah, a ser lançado em Janeiro - pelo visto, vem coisa impecável por aí. A banda encerrou com "Ratamahatta", que sempre foi pouco tocada nos shows, e claro, "Roots Bloody Roots", lavando a alma dos que resistiram até 03:00 da manhã do domingo.

DOMINGO

O segundo dia foi marcado com atrasos nas apresentações e muitos problemas técnicos na parte do som. Sem chuva, o público se mostrou mais presente desde cedo. O Hatefullmurder abriu o dia com peso e muitos guturais de Angélica Burns. A vocalista bate cabeça durante toda a apresentação e tem ótima sintonia com o público. Se Angélica agitou sem parar, os outros integrantes pareciam tímidos e poderiam entrar mais na vibe da vocalista. Mesmo assim, cações como "My Batlle" - conhecida por muitos presentes - e "Fear My Wrath" mostraram que a banda já está acostumada com grandes palcos. Na seqüência tivemos a Ekros, que mais pareceu uma reunião de amigos num revival de suas próprias músicas, e pior, com pouquíssimo ensaio. Não empolgou e muito menos pareceu fazer diferença. Na sequência tivemos o John Wayne e seu metalcore com ótimos vocais de Fabio figueiredo. Se não fossem os problemas técnicos que a banda enfrentou, a apresentação poderia ter sido muito boa. Mesmo assim, a banda conseguiu conquistar a curiosidade e admiração dos mais atentos. Sendo um show curto e de poucas músicas, vale destacar a derradeira: "Lágrimas". 

Foto: Nem Queiroz
O vocalista Caio MacBeserra comanda o ótimo show do Project 46
Já acostumados com shows em grandes festivais (Rock in Rio), o Project 46 iniciou a apresentação disparando pedradas sonoras de todos os tipos. O público já dominava o Terreirão quando se iniciou o show. Na faixa "Impunidade", o vocalista Caio MacBeserra ordenou duas rodas de pogo, uma de cada lado, para acompanhar o som. E prontamente foi atendido. Dali em diante foi só paulada na orelha, com destaque para as guitarras ultra pesadas de "Violência Gratuita" e "Atrás das Linhas Inimigas". Mas o ponto alto do show foi, sem dúvida, a grande roda que se abriu na ultima música, "Acorda Pra Vida". O Resultado? Veja no youtube alguns vídeos e tire suas conclusões. “Vamos falar de putaria e mulher?”. Foi assim que as Velhas Virgens iniciaram o seu show no Hell in Rio. Em suma, foi aquela sessão rock n’ blues já conhecida nos 30 anos de carreira do grupo. "E com muito orgulho", como dito pelo vocalista Paulão de Carvalho. Na turnê que divulga a coletânea “Garçons do Inferno”, o show reúne todo o repertório clássico, que vai desde a história de um beberrão safado ("De Bar Em Bar Pela Noite") ao caô para se conseguir o que quer ("Só Pra Te Comer"). Ainda teve o discurso feminista - e totalmente coeso - de Juju Kosso na ótima "Mulher Diabo", enfatizando que mulher quer o mesmo que o homem: gozar. Já no hino "Abre Essas Pernas", todos cantaram juntos, e teve direito a um coito entre Paulão e Juju no palco. Resumindo: Rock N' Roll na essência!

"Trash Metal sim, White Metal é o c*****!" afirma com convicção Marcelo Pompeu, vocalista do Korzus em um show de tremer os ossos de tanto peso. Incrível ver o som pesado e coeso que as bandas, no auge dos seus 30 anos de carreira, conseguem executar. O batera Rodrigo Oliveira na cozinha com o baixo violento de Dick Siebert e as excelentes guitarras de Antonio Araujo e Heros Trech fazem o chão do Terreirão tremer. Talvez o show mais pesado do festival. Não faltam bons momentos do show, seja com o coro dos presentes em "Raise Your Soul", ou com o inicio enfurecido de "Never Die". "Vampiro", do último trabalho, define que a banda nunca será uma bandinha normal de metal. Qualidade e peso definem. 

Foto: Nem Queiroz
O baixista Dick Siebert do Korzus num dos melhores shows do festival
O Matanza subiu ao palco carregando o público em suas mãos. Com o passar dos anos, o grupo se tornou uma referência nacional, e também, vem aumentando a velocidade com riffs de trash metal absurdos em suas músicas - marca registrada do guitarrista e compositor da banda Donida, que raramente toca ao vivo com a banda. Os show têm a fórmula de sempre: hardcore com country e pancadaria em músicas de todos seus álbuns. Jimmy e os demais integrantes (que são hoje: Dany Escobar no baixo, Jonas na bateria e o guitarrista Mauricio) não dão sequer um descanso – pelo menos até a caixa da bateria estourar na metade do show. Logo no início tivemos "O Chamado do Bar", "Ressaca sem Fim" e "Arte do Insulto", do álbum 'A Arte do insulto' de 2006. Além de "Clube dos Canalhas", onde o vocalista diz ser membro oficial juntamente com seus fãs. "Pandemonium", "Eu Não Gosto de Ninguém", "Mulher Diabo" e "Pé na Porta e Soco na Cara" também fizeram a alegria do público, num repertório que teve de ser encurtado mas que não prejudicou em nada o show. "Ela roubou meu caminhão" e "Interceptor V6" também estiveram no setlist. Uma apresentação que calou a boca de muita gente que achava que o Matanza não tinha perfil para ser um headline do festival. Mesmo com a maioria do público tendo ido embora após o show do Matanza, o Angra se apresentaria com quase duas horas de atraso - resultado de uma série de fatores que aconteceram durante o dia - para um público que já parecia cansado. A banda não perdeu tempo e simplesmente tratou-se a executar as músicas de forma precisa. A linda "Newborn Me" foi a primeira da noite e já mostrava a qualidade de execução que é uma das principais marcas da banda. O repertório não teve muitas surpresas e seguiu rigorosamente o que eles estão apresentando nessa turnê. Mesmo assim, acabou sendo um show pontual para os fãs e que dignifica a história do Angra, ainda que a formação seja quase toda diferente da que marcou a carreira do grupo.

Foto: Nem Queiroz
Público na grade do Hell in Rio. Festival merece entrar no calendário da cidade

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