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Em noite de comoção, Sabbath se despede do Rio com homenagens à Chapecoense

Foto: Produção
Bandeira da Chapecoense entre os bumbos da bateria
Por Bruno Eduardo

Cerca de 40 mil pessoas lotaram a praça da Apoteose para conferir a The End Tour, última reunião dos pais do rock pesado: o Black Sabbath. Ozzy Osbourne, Tony Iommi e Geezer Butler reuniram fãs de todas as idades numa noite marcada por muita comoção, que teve a despedida como tom principal. Como já virou hábito, a procura por ingressos aumentou bastante nas horas que antecederam a apresentação e o Centro do Rio foi dominado pelas camisas pretas, que formavam procissões em várias vias da região.  

Cartilha setentista do Rival Sons empolga público

O público ainda chegava quando o Rival Sons subiu ao palco. Calcados no hard rock setentista de bandas como Led Zeppelin e Deep Purple, eles mostraram o porquê foram escolhidos como a banda de abertura da turnê mundial do Sabbath. Com destaque para a performance do excelente vocalista, Jay Buchanan, o grupo americano evidenciou um notável repertório de canções rock-blues, quase sempre ditados pelos riffs de Scott Holiday e pela bateria precisa de Michael Miley. Músicas como "Eletric Man", "Pressure in Time", e a ótima "Open My Eyes" foram algumas que intensificaram bastante o número apresentado por eles. "Estamos muito felizes com essa oportunidade de poder abrir para uma das maiores bandas de todos os tempos. Obrigado Black Sabbath!", disse o vocalista Jay Buchanan, antes do blues excepcional de "Fade Out", que também está presente no novo disco do grupo, 'Hollow Bones', lançado este ano. A banda terminou a impecável apresentação com a enérgica "Keep On Swinging" e saiu de palco bastante aplaudida.

A Missa Negra
Foto: Caio Wichrowski
Black Sabbath em noite de despedida no Rio de Janeiro
A Apoteose já estava abarrotada quando as luzes se apagaram para a última apresentação do Sabbath no Rio. Pela segunda vez em 45 anos, Ozzy, Geezer e Iommi apresentaram na cidade um número que resume de forma categórica a importância da primeira e mais original banda de heavy metal da história. 

O início do show com "Black Sabbath", bastante prejudicada pelo volume baixo da guitarra de Iommi, ainda é capaz de assombrar. Mesmo sendo uma das canções mais sombrias e malignas de todos os tempos, os riffs são cantados pelo público como um verdadeiro coral de igreja, numa espécie de missa negra. O som não estava lá essas coisas (uma maçaroca grave e sem pressão), é verdade, mas ali no palco estão reunidos os principais arquitetos da história do metal em seu último capítulo. Sim, falta Bill Ward, e é evidente que seria uma experiência muito mais autêntica com Ward, que afinal de contas, foi o criador da coisa, mas é inegável também, que a presença de Tommy Clufetos surge como um componente chave, trazendo energia necessária ao número, e garantindo que eles possam, inclusive, tirar dez minutinhos de descanso enquanto o baterista surra seu instrumento no único momento solo da noite.

A grande diferença desta para a primeira vinda ao Brasil é o fato de não haver músicas do último disco de inéditas lançado mundialmente, o ótimo '13'. Com isso, o grupo não desviou muito de alguns hinos certeiros como "Iron Man", "Fairies Wear Boots", "NIB" e "Paranoid". No entanto, seria impossível para uma banda que praticamente ditou o rumo do rock pesado no início dos anos 70 conseguir reunir todas as pedras fundamentais num show de uma hora e meia. As ausências mais sentidas são sempre de faixas como "Sabbath Bloddy Sabbath", "Sweet Leaf", "The Wizard" e "Sympton Of The Universe". Mas o público não reclama - e não tem mesmo do que reclamar. É uma oportunidade única, afinal. Ali estão eles, ainda, mesmo com idade avançada, em cima de um palco dispostos a continuar fazendo história, mesmo que seja para escrever os últimos capítulos.

"Into the Void", do petardo 'Master Of Reality' (cuja a capa enfeitou os telões antes da apresentação) foi o momento mais pesado da noite. Outro destaque foi "Snowblind", que representou um dos melhores discos da carreira da banda, o estupendo 'Vol. 4'. Já "War Pigs" é talvez a música mais cantada pelos fãs nos shows do Sabbath. É impressionante como a letra continua atual nos dias de hoje e como ela é acompanhada do início ao fim sem conter um refrão sequer. E o que dizer de "Children of the Grave"? Essa canção resume de forma categórica a importância do Sabbath para a modernização do metal e a existência de grupos como Metallica e Slayer, por exemplo. O mesmo se aplica ao peso-pesado, "After Forever" - com atuação pedagógica da dupla Iommi e Geezer.

Foto: Caio Wichrowski
Solo de Tony Iommi exibido no telão de altíssima definição
Com a serenidade peculiar, que marca sua performance nos palcos, Iommi presenteia os fãs com sua incrível versatilidade em tocar guitarra. Canções como "Fairies Wear Boots" e "Dirty Women" comprovam seu saboroso arsenal, que passeia por riffs robustos e solos bluesy. A capacidade de criar melodias marcantes, que são cantadas pelo público durante toda a apresentação é algo que só evidencia a sua importância como um dos mais originais guitarristas de todos os tempos. Ozzy, por sua vez, é mais discreto que nas últimas visitas ao país. Não anda mais de um lado ao outro do palco e limita-se a ficar mais no centro, frente ao seu telemprompter, onde lê as letras das músicas. Fala pouco também. Apenas as frases marcantes, onde pede mãos levantadas e declara amor aos fãs. O fato de estar diante de uma das lendas do rock mundial, que beira aos setenta anos de idade, sugere de imediato que seja abortada qualquer tipo de análise técnica de sua forma vocal e física. Afinal, trata-se de Ozzy Osbourne, o 'Príncipe das Trevas', aos 68 anos de idade, sobrevivente de uma jornada das mais loucas e pesadas que um ser humano poderia suportar

Em termos de produção, o show contou com alguns efeitos de vídeo mais discretos do que podemos ver atualmente. O mais marcante foi na introdução da instrumental "Rat Salad", em que o telão exibiu um trecho de nostalgia vintage, com imagens da banda nos anos setenta, com destaque ao baterista Bill Ward. 

No final da apresentação, um dos momentos mais emblemáticos da noite. O público fez uma homenagem ao time da Chapecoense, cantando "olê, olê, olê Chape, Chape", que entoou por todos os cantos da Apoteose. Resumindo: uma noite digna de despedidas, que vai ficar marcada para sempre na vida dos 40 mil fieis envolvidos. Amém.

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