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Discos: Sepultura (Machine Messiah)

Foto: Divulgação
Sepultura dá passo à frente com disco ousado e cheio de novidades
SEPULTURA
"Machine Messiah"
Nuclear Blast; 2017
Por Ricardo Cachorrão Flávio


'Machine Messiah' começa de forma louvável, mostrando que o Sepultura não parou no tempo, não se prende nem se importa com a ladainha de velhos integrantes que não cansam de dar declarações polêmicas e não se transformou em cover de si próprio, como é mais do que comum em bandas tão longevas como eles. A faixa título, que abre o disco, é uma constatação cristalina de que a banda não ficou refém do passado. Ela começa lenta, com Derrick Green mostrando que não é apenas um vocalista de berros guturais. Ele aparece cantando de forma limpa e bem postada e a música vai crescendo ganhando ritmo gradual. É uma bela canção. Diferente, mas é Sepultura.

A sequência é pau puro! “I Am the Enemy”, que a banda já havia divulgado ano passado, é um crossover metal-hardcore nervosíssimo, pra tocar o puteiro nos shows e fazer a roda ficar insana! Logo depois, experimentos bem vindos... “Phantom Self”, outra que já havia sido liberada, começa com uma batida de maracatu que me remeteu diretamente à Nação Zumbi, banda que o Sepultura sempre respeitou e chegou a gravar. Mas no desenrolar da canção vamos descobrindo que é muito mais que isso. Há a presença de uma orquestra tunisiana que dá um clima apocalíptico à faixa. Além disso, a cozinha de Paulo Xisto e Eloy Casagrande fazem a cama perfeita para os solos cortantes de Andreas Kisser e a massa sonora vinda dos violinos da orquestra. Grande canção!

De acordo com o release do álbum, entrevistas e o ‘making of’ divulgado pela banda com o andar das gravações, feitas na Suécia, 'Machine Messiah' foi inspirado no uso da tecnologia e no processo de robotização da sociedade. Sua capa é um belíssimo trabalho feito pela filipina Camille Dela Rosa, intitulado “Deus Ex-Machina”, segundo Andreas Kisser, não foi um trabalho feito por encomenda, foi feito há seis anos, mas, na medida para o conceito do álbum que vieram a gravar, ou, o que se pode chamar de casamento perfeito.

É um disco que se deixa ouvir por inteiro, e não há como indicar um ponto alto isolado, já que todas as canções têm seus méritos. Da mesma maneira, não existem pontos negativos no álbum. “Alethea” começa com um excelente trabalho de percussão de Eloy Casagrande, talvez o melhor baterista que a banda já teve. E no embalo vem a 'cacetada' instrumental “Iceberg Dances”, que passa do heavy metal clássico a várias outras influências com uma naturalidade impressionante.

Sworn Oath” aproxima a banda de thrash ao metal convencional, com quilos de teclados deixando um clima grandiloquente, épico. Derrick Green grita forte, e bem colocado e a faixa traz o peso característico da banda, mas sem acelerar. Como diriam os "headbangers malvados", é música para assustar velhinhas indefesas. Já “Resistant Parasites” começa como o velho Sepultura, nervoso, brutal, mas os teclados e orquestrações dão um toque diferenciado no decorrer da canção, que conta também com solo limpo que destoa da base suja e pesada característica da banda, isso é o que eu quis dizer lá no início, o Sepultura não parou no tempo. “Silent Violence” e “Vandals Nest” são porradas certeiras, pra não deixar pedra sobre pedra.

Para fechar esse manifesto ao virtual domínio da máquina sobre o homem, “Cyber God”, que novamente mostra um Derrick Green cantando de forma límpida e mais segura que nunca. Uma bela canção para findar um excelente disco.

Num balanço geral, o Sepultura completa 33 anos maduro e ainda com lenha pra queimar. Enquanto os irmãos Cavalera saem em turnê cantando e tocando Sepultura, e aproveitam para destilar veneno e acusar os remanescentes de negar uma reunião, Andreas, Paulo, Derrick e Eloy trabalham firme e mostram do que são capazes, numa clara evolução desde 'Against' – o primeiro trabalho pós-separação. E sempre é bom lembrar que Derrick Green está completando 20 anos de banda, que é bem mais do que Max cantou com eles. Para os antigos e chatos fãs xiitas, existe a ressalva cristalina de que o Sepultura nunca parou. Quem saiu foi o Max - na época indo contra até mesmo ao inseparável irmão - e Derrick merece maior respeito de todos, pois sempre honrou a banda, seus fãs, e como está mais que constatado neste novo disco: possui qualidade de sobra. 

Que venha a turnê! Que venham novos discos!

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