Inspirado em livro infantil, Primus testa a paciência do ouvinte em 'Desaturating Seven'
Primus erra na mão em "Desaturating Seven", novo disco de inéditas. |
"Desaturating Seven"
ATO Records; 2017
Por Luciano Cirne
Vou começar essa crítica de modo bastante direto e pessoal: Sou fã do Primus e digo com certeza, que quem assim como eu, é baixista ou fascinado pelo baixo também o é: Les Claypool, o cabeça da banda, é reconhecidamente um dos melhores do mundo nesse instrumento. Porém, de uns tempos para cá, é inegável que ele tem andado numa fase de estagnação: seu trabalho anterior onde reinterpretava as canções da trilha sonora de "A Fantástica Fábrica de Chocolate" já transparecia uma certa falta de criatividade, e, em 'Desaturating Seven', a coisa infelizmente não muda muito de figura.
Totalmente baseado no livro infantil "Rainbow Goblins" do italiano Ul de Rico, onde gnomos malvados vagam pelo mundo roubando as cores dos arco-íris que encontravam (o que diga-se de passagem também não é nenhuma novidade, haja vista que o músico japonês de jazz Masayoshi Takanaka já havia feito um álbum temático usando esse livro como inspiração em 1981), 'Desaturating Seven' tem o mérito de subverter a obra original do escritor italiano e transformar um livro voltado para o público infantil e que à primeira vista parece até mesmo bobo em algo claustrofóbico, bizarro e por vezes perverso (pode-se acusar o Primus de qualquer coisa, menos de não ter ousadia), porém esta é uma das poucas virtudes do álbum, assim como as faixas "The Seven" e "The Scheme", as únicas que poderiam com tranquilidade estar em qualquer álbum clássico da banda (aliás, falando nisso, convém ressaltar que esse é o primeiro disco em 22 anos a ter no lineup a formação clássica, com Larry LaLonde na guitarra e Tim Alexander na bateria); a primeira devido ao seu groove irresistível e "The Scheme" por ser a mais acessível e a única com potencial radiofônico.
Com boa vontade dá para destacar também a penúltima música "The Storm", por ser a mais pesada e por marcar o triste fim dos Goblins (sem querer liberar spoilers, mas eles morrem no final, tá?), e é só. As quatro canções restantes pouco ou nada acrescentam:"The Valley", que inicia os trabalhos, parece uma sobra pouco inspirada de algum disco do Residents; "The Trek" e "The Dream" testam os limites da paciência por serem longas e arrastadas e "The End" é uma espécie de vinheta de pouco mais de um minuto que serve apenas para, conforme o título explicita, fechar este estranho álbum conceitual.
Já alerto aos marinheiros de primeira viagem: Se você desconhece o Primus, NÃO comece por aqui! Tente antes seus trabalhos mais pesados e acessíveis como 'Sailing the Seas of Cheese' e / ou 'Antipop'. Agora, se assim como eu, você é fã das antigas, recomendo que vá com calma aqui, pois não é um disco de fácil assimilação. Merece crédito por ser desafiador - o que é sempre digno de aplausos, ainda mais nesses tempos em que vivemos onde tudo que faça o povo parar pra pensar é automaticamente rechaçado e condenado ao fracasso; mas infelizmente sua audição nem sempre é uma experiência recompensadora. Tem mais pontos negativos que positivos e, por isso, só o recomendo mesmo aos fãs mais hardcore do Les Claypool. Aos demais, sinceramente, esse disco não fará muita falta.
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