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Cada vez melhor: Ghost evolui proposta e reaparece ainda mais hard rock em “Prequelle”

Ghost está de volta com nova sonoridade e proposta mais convencional
Por Lucas Scaliza
 
Prequelle é o quarto álbum completo do Ghost e - graças a uma ação judicial movida por ex-músicos da banda - o primeiro que não tem mais a obrigação de guardar mistérios. Tobias Forge é mesmo o cantor e cabeça do grupo sueco e que se escondia debaixo de maquiagem pesada e vestes papais. É claro que parte da aura que a banda carregava, e que a tornava tão interessante, se foi com todas as revelações. Mas a musicalidade permanece e em Prequelle tomam a liberdade de ampliá-la.

Desde que “Rats” foi anunciada, já mostrando o novo frontman em ação, Cardinal Copia, pudemos perceber que os elementos de metal presentes em grande parte das canções dos álbuns anteriores agora estão com mais cara de hard rock, uma impressão que predomina ao longo de todo o disco, aliás. Assim como “Rats” já tinha algo de Queen, há muitos outros acenos para os anos 80 aqui e ali, como mostra a ótima instrumental “Miasma”, que coloca uma bela seção de solo de sintetizador [uma novidade para a banda] e um solo de saxofone tocado pelo papa Nihil [outra novidade, seja pelo instrumento ou pela participação papal].

Ou seja, se o metal do Ghost já era acessível anteriormente, agora está deslizando para dentro dos ouvidos com ainda mais facilidade. Os refrãos pegajosos estão presentes, é claro, seja na oitentista “Dance Macabre” ou na mais soturna “Faith”, os riffs espertos continuam sendo uma marca instrumental interessante do grupo, e, para completar o cenário, há muito menos referências diretas a demônios e figuras do imaginário cristão. No entanto, a morte se anuncia como um tema geral que perpassa diversas faixas.

Pro Memoria” é, possivelmente, uma das melhores músicas que Tobias Forge já compôs. É uma balada turbinada por coral, teclados e naipe de cordas. Uma versão acústica, executada em uma igreja, cairia bem a ela com certeza. “Witch Image” é uma das mais simples e diretas do álbum, mas as melodias compostas pelo sueco são cativantes demais. “Life Eternal”, que fecha o pacote, é mais uma faixa que passa longe do heavy metal e dos riffs com trítonos. Coral, órgão de catedral e mais melodias bonitas fazem dela um encerramento pomposo, mas não soa como o fim de um ritual ou missa negra.



Vale a pena notar que a mudança de um papa Emeritus para Cardinal Copia como frontman ajuda a variar a narrativa da banda, mas ajuda a pontuar essa guinada hard rock do disco e, mais do que isso, dá mais mobilidade ao cantor ao vivo e nos clipes. Toda a indumentária papal – da maquiagem ao chapéu e a longa batina – limitavam a performance de Forge. Agora que a banda é presença garantida em diversos festivais europeus e tem um público maior por onde quer que passe, é preciso que o cantor seja de fato um ponto de conexão com o público. Com figurino mais flexível, Cardinal Copia é um personagem que cumprirá melhor esse papel.

O instrumental mais variado de Prequelle atinge seu ápice criativo em “Miasma” e na também valsa instrumental “Helvetesfonster”. Esta última é um exemplo de como uma banda de rock pode fazer uma faixa sem vocal interessante do começo ao fim e sem precisar se escorar na técnica mirabolante de seus músicos. A construção e a divisão de papeis entre os instrumentos é tão bem feita que a composição, que vai do medieval ao contemporâneo, é mais um ponto alto na carreira da banda.

De um ponto de vista puramente estilístico, Prequelle é o álbum que vai fazer certos fãs usarem o velho e batido bordão “não está tão pesado quanto antes”. De um ponto de vista musical, e de carreira, é importante ver que Forge e seus Nameless Ghouls conseguem se desviar um pouco da rota que seguiam para ousar com outras referências. Em termos de metal, Ghost nunca foi tão pesada ou sombria assim também, portanto resgatar o hard rock ajuda a diversificar a discografia e cai bem à identidade de Cardinal Copia, que é o protagonista deste quarto capítulo da trajetória da banda.
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