Songs For The Deaf - o melhor disco de rock dos anos 00's
Foto: Ilustração
O terceiro disco do QOTSA foi a pedra da salvação do rock 2000 |
De quantos em quantos anos podem surgir discos capazes de causar permanência fixa na pele do rock?
Rústico, hipnótico e extremamente preciso, o terceiro álbum do Queens Of The Stone Age – que na época começava a se tornar a “nova salvação do rock” – possui uma sonoridade tão espiritualmente rock and roll, que chega a ser duvidoso o fato de não ter sido concebido em meados da década de setenta.
Após receberem aclamação mundial em Rated R, muito pelo o sucesso do hino “Feel good Hit Of The Summer”, o QOTSA já ostentava a fama de representante do stoner rock. A banda, que era quase um projeto solo do excepcional Josh Homme, mantinha-se naquele momento apenas com Nick Oliveri (baixo), e contava com a participação de Mark Lanegan (Screaming Trees) atuando como um segundo vocalista. Mas o grande "achado" do disco foi a presença ilustre de Dave Grohl na bateria. Grohl afirmou na época, que esse era o seu melhor registro em estúdio desde Nevermind, quiçá a melhor coisa que ele fez na vida.
O som é maciço, o caos é mais calculado. Riffs impressionantes, velocidade, e guitarras que cospem acordes e notas como uma máquina desgovernada. É cheio de clichês, de metal, mas eles sabem. Fazem exatamente o que os fãs esperam: usam o conhecimento estereotipado de rock em uma viciosa trilha. É fantástico, e não, não estou falando do disco inteiro. Isso é apenas a primeira faixa ("You Think I Ain't Worth A Dollar, But I Feel Like A Millionaire"). A canção seguinte, "No One Knows", é igualmente genial. Vocal fantasmagórico em harmonia, baixo pulsante e um Dave Grohl inspiradÃssimo – atente ao solo de bateria no meio-fim da música. Mantendo um ritmo de marca-passo com uma guitarra esplendorosa, Homme passeia falsetes e uma melodia excitante. A voz do sujeito é extremamente peculiar – sutil, imponente e sacana.
A inteligência mordaz do grupo, que permeia muitas das canções, acaba dando um ar de espontaneidade ao disco. Desde a guitarrinha surf-oscilante em "Another Love Song", e o ritmo cerebral de "Six Shooter" (que parece ser obra de alguma orquestra doentia), Songs For The Deaf demonstra variações musicais constantes. É de um entorpecimento sonoro altamente perturbador, que dá prazer pelo simples fato de ser... Delicado! Mas é rock! É talvez um dos poucos discos de rock – verdadeiramente falando, tradicionalmente constatado – que se teve notÃcia desde que o grunge se foi, e o nu-metal invadiu o mainstream. O grande mérito de Songs For The Deaf não é ser apenas um bom disco de rock, mas soar rock em plenos anos 2000 - onde ninguém mais queria ou conseguia ser - e mesmo assim alcançar a tão buscada originalidade.
Para quem não sabe, a capa do disco mantém diferentes versões. A mais popular, que inclusive virou uma espécie de logomarca da banda, é o Q em forma de um óvulo sendo invadido por um espermatozoide. Há também vinis vermelhos com essa arte espalhados pelo mundo. Recentemente, a Ipecac Recordings (selo de Mike Patton) lançou uma versão do disco em vinil duplo, com uma música extra: “Bloody Hammer”. Na maioria das cópias, Songs For The Deaf é finalizado por uma divertida versão de “Everybody's Gonna Be Happy”, do Kinks.
Após esse disco, o Queens Of the Stone Age se despediu de Dave Grohl, e demitiu Nick Oliveri – várias versões pipocaram nos bastidores, mas a alegação foi mesmo das tais diferenças pessoais com Josh Homme. O grupo ainda gravou mais três trabalhos de estúdio: o também excelente Lullabies To Paralyze, o sujo - mas não tão brilhante - Era Vulgaris e o aclamado Like Clockworck.
Embora não tenha sido um marco para o mercado (vendeu aproximadamente um milhão de cópias), Songs For The Deaf mantém até hoje uma extrema importância para a história do rock mundial. Afinal, nenhum disco representou tão bem o gênero na década passada como este lançado pelo Queens Of The Stone Age em 2002.
Falou tudo!
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