Plebe Rude segue viva, forte e dando aula de história em “Evolução, Vol. 1”
Plebe Rude: Clemente Nascimento, Philippe Seabra, Marcelo Capucci e André Mueller |
Por Ricardo Alfredo Flávio
Em janeiro deste ano, adiantamos aqui no Rock On Board que a PLEBE RUDE estaria finalizando a turnê do álbum Primórdios para entrar em estúdio e gravar um novo disco, de conteúdo conceitual, onde a ideia era contar a história do homem, no formato de uma ópera rock, desde seu surgimento até os dias atuais, e, Evolução, Vol. 1 trás, em 14 faixas muito bem trabalhadas, a primeira parte desta rica saga. Em tempos em que o Brasil está tão burro e analfabeto, renegando a própria história, uma banda como a Plebe Rude, com tanto valor, dando “aula de história”, é algo fantástico, e nunca se fez tão necessário.
Em janeiro deste ano, adiantamos aqui no Rock On Board que a PLEBE RUDE estaria finalizando a turnê do álbum Primórdios para entrar em estúdio e gravar um novo disco, de conteúdo conceitual, onde a ideia era contar a história do homem, no formato de uma ópera rock, desde seu surgimento até os dias atuais, e, Evolução, Vol. 1 trás, em 14 faixas muito bem trabalhadas, a primeira parte desta rica saga. Em tempos em que o Brasil está tão burro e analfabeto, renegando a própria história, uma banda como a Plebe Rude, com tanto valor, dando “aula de história”, é algo fantástico, e nunca se fez tão necessário.
O disco abre com “Evolução”, que foi o primeiro single apresentado pela banda, há dois meses, com um lyric vídeo bem bacana no YouTube e trás Philippe Seabra, André X, Clemente Nascimento e Marcelo Capucci numa bela faixa, com letra caprichada, e música carregada de órgão Hammond, que trás uma sonoridade única e diferente do que a Plebe Rude costuma apresentar, mostrando aqui também uma evolução, deixando para trás toda aquela conversa de Brasília, Turma da Colina, Renato Russo e Primórdios, para se dedicar a algo novo e diferente. A faixa conta com a participação especial de Walter Casagrande Júnior, ex-jogador de futebol, comentarista e roqueiro assumido, narrando fatos que vão do início da caminhada, literal, do homem, a invenção da roda, das armas, das fronteiras, até chegarmos na corrida espacial, dos conflitos e da guerra, lembrando ao final do pensamento de Albert Einstein, de que a terceira guerra mundial não se sabe, mas, a quarta, será feita com paus e pedras.
“O Início”, um rápido instrumental com toque militar de alguns segundos precede a continuação da história evolutiva, que chega com “A Nova Espécie”, quando Philippe Seabra canta a transição do homem, das cavernas ao mundo exterior, numa faixa que começa com violão e cresce. Interessante notar como teclas fazem parte deste trabalho de maneira bem marcante.
A sequência vem com outra letra e música do Seabra, e a bela balada “O Fogo Que Ilumina o Caminho” disserta sobre as criações do bicho homem, da descoberta do fogo, novamente à criação da roda e das engrenagens que fazem o trabalho pesado para o homem, e já haviam sido citadas em “Evolução” e um flerte com o futuro, quando menciona o fim da caça e o preparo da terra e a plantação. Será que o futuro e o ponto final evolutivo, é ser vegano?
“A Janela pro Céu” tem um ar sonoro oitentista, cheio de sintetizadores que remetem diretamente ao pós-punk, e a letra fala, dentre vários assuntos ligados à Idade Média, do início dos conflitos religiosos, tão presentes na história da humanidade, desde sempre. “A Queda de Roma”, com música e letra do baixista André X, vem em seguida e tem título autoexplicativo, com sonoridade que também remete aos anos 80, mas, ao invés dos sintetizadores da faixa anterior, o destaque vai para as guitarras pesadas, lentas e sombrias.
“Bring Out Your Dead”, chega pesada e resume assuntos já tratados nas faixas anteriores: “Traga-me Seus Mortos”, a peste bubônica, as cruzadas e a inquisição! “Nova Fronteira” foi o terceiro single lançado do disco e trás a sonoridade já velha conhecida da Plebe Rude e é uma faixa sensacional, onde Philippe Seabra conta desta vez a expansão do Império Europeu através da exploração das colônias, nas Américas e África – “Nova fronteira, finco a bandeira / Agora é meu, e não mais seu / Queira ou não”. Esta faixa tem participação especial de Ana Carolina Floriano, atriz e cantora mirim da Escola Estúdio Brodway, que recita versos contundentes:
“Imagina se a África
Ninguém fosse lá escravizar
Como seria?
E se os Astecas, Incas e os Maias
Tivessem mais dias?
Imagina todos os índios ainda nos latifúndios que antes eram suas terras?
E as civilizações não tivessem as aspirações derrubadas pela guerra?”
“Descobrimento da América” é a nona faixa do álbum e acredito ser a música mais longa de toda a carreira da Plebe Rude, com pouco mais de 10 minutos, e que conta em detalhes as navegações de espanhóis e portugueses a fim de “descobrir” e explorar a América. Uma opinião bem pessoal: enquanto o rock nacional mainstream está a cada dia que passa mais manso e bunda mole é saudável que, após 38 anos de sua criação, ainda tenhamos a Plebe Rude, contestatória e metendo o dedo na ferida. Uma pequena lembrança nesta faixa é que o verso final “Não haverá mais submissão ao Rei”, lembra, e muito, na forma de cantar, o Camisa de Vênus em “O Adventista”, de 1983, onde Marcelo Nova bradava “Não vai haver amor neste mundo nunca mais”, ambas baseadas nos Buzzcocks, autores da original “I Believe”, como homenagem a Pete Shelley, falecido no final do ano passado.
Seguindo em frente, “Um Belo Dia em Florença”, de André X e Philippe Seabra, é a minha preferida no disco, e fala da época do Renascimento, no Século XIV, e o homem com foco na arte e ciência, onde são citados Da Vinci, Michelangelo, Rafael. Bom lembrar que esta época marca a transição do feudalismo ao capitalismo e isso tem impacto marcante em toda a sociedade.
Caminhando para o final do disco, “Luz no Fim das Trevas, Pt. 1” é a primeira participação de Clemente Nascimento como compositor no disco, onde o tema é o Iluminismo e a saída do homem das trevas da Idade Média, e entrando na Era da Razão, que, resumindo, foi quando os pensadores da época – cientistas, escritores e filósofos, defendiam o uso da razão em oposição a tradição e ao pensamento religioso. A música tem uma continuação em seguida, “Luz no Fim das Trevas, Pt. 2”, esta, uma parceria dos outros plebeus, Seabra, X e o baterista Marcelo Capucci.
“A História Deja Vu”, parceria de Clemente e Philippe, fala de como o homem é estúpido e de toda a evolução das armas, desde o princípio dos tempos, até os dias de hoje, quando a história se repete, ou, nos dá a impressão de que já vimos aquilo tudo antes, pois, sempre termina em batalha.
E “Evolução, Vol. 1” se encerra com a contundente “A Mesma Mensagem”, em que Philippe Seabra escreveu para falar das religiões e os conflitos nascidos a partir das diferenças entre elas, nos deixando como mensagem estes versos do refrão, que vale a pena reproduzir:
“Buda, Jesus, Maomé
Tentaram te Dizer
Que os deuses Hindus
E do Candomblé
Vieram te Trazer
A mesma mensagem que é:
Não Importa a Fé
As crenças se sobrepõe
A Convivência Cabe a Você”
Lançado nas plataformas digitais em 06/12, mesmo dia em que o The Who lançou seu novo álbum – “WHO”, depois de 13 anos sem material novo, este disco da Plebe Rude deixou o dos ingleses cair no esquecimento, pelo menos em minha casa. Fica a ansiedade para conhecer logo o “Vol. 2” e, como será toda a transposição de um material tão belo para o palco.
Cotação:
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Mandando bem cachorrão, abraço nego
ResponderExcluirBelo texto!!!
ResponderExcluirPor isso sou seu fã.