Em novo disco, 30 Seconds To Mars não vai além das tendências
Banda de Jared Leto está de volta com "America" |
Por Lucas Scaliza
Jared Leto é o rosto, o relações públicas e a principal
figura da banda Thirty Seconds To Mars. Está cercado por Hollywood. Vive e
trabalha em Los Angeles, onde participou de dois filmes – Esquadrão Suicida e Blade
Runner 2049 – enquanto compunha, cantava, tocava e coproduzia America, o quinto álbum de sua banda. Um
ator como ele, bastante querido pelo público e oscarizado pelo seu papel em O Clube de Compras de Dallas, vive
cercado do que a fama proporciona e embebido das fogueiras das vaidades de um
dos locais em que mais se valoriza o culto à celebridade. Leto consegue
enxergar além dessa bolha, mas não deixa de ser um produto dela também.
America deixa isso
tudo muito claro. Para começar, é um disco sobre os Estados Unidos. Sim, mais
um disco que em boa medida vem com um texto explicitamente político, reflexo de
uma insatisfação com a eleição de Donald Trump. Mas America vai além das críticas ao senhor da Sala Oval e tenta
penetrar no interior de cada lar dos EUA ao tentar falar dos valores
americanos, do famigerado way of life
yankee. E nenhum lugar representar esse jeito de encarar os EUA como Los Angeles
e sua fábrica de sonhos, Hollywood. “Walk On Water”, single máximo de
celebração do álbum, é um chamado ao levante popular para que o país mude.
Serve para os EUA, mas serviria para o Brasil também, e para tantos outros
países que passam por uma profunda crise de confiança nos governos, empresas e
instituições. Na soturna “Dawn Will Rise”, ele canta: “Mude ou morra”.
A banda diluiu seu rock alternativo em diversos outros
estilos também. “One Track Mind”, com A$AP Rocky, é um R&B lento, feito
eletronicamente, mas tem um dos únicos solos de guitarra do álbum e também o
mais sexy deles. Com Halsey completando o dueto, “Love Is Madness” é a tacada
de Jared Leto no dream pop. As duas músicas, assim como várias outras, são
produções eletrônicas quase que completamente. Ao chegar nos refrões, a pressão
sonora é conduzida por um sintetizador de timbre bem sujo. Claramente, o
instrumento está substituindo as guitarras distorcidas, mas, como o Leto já
disse em uma entrevista para a Rolling
Stone, as guitarras não tem mais vez nessa era, fariam o ouvido da galera
sangrar.
Hollywood não sai de Leto nem na música. Tudo soa grande e
pomposo, até mesmo uma baladinha sem vergonha como “Rescue Me”. “Monolith” é um
resumo da estética e dos timbres usados em America
e acaba sendo uma faixa cinematográfica que parece influência direta do modo
Hans Zimmer de fazer música. Mesmo sempre tendo sido uma banda meio modinha, o
Thirty Seconds To Mars nunca soou tanto como um crossover de Muse e Imagine
Dragons quanto agora.
A personalidade da banda continua viva na voz e no carisma
de Jared Leto. “Great Wide Open”, embora uma música dessas que toda banda faz
para emocionar multidões e virar trilha sonora de vídeos tocantes, destaca o
drive seco do cantor e como sabe controla-lo bem o bastante para que o timbre
mais rouco de sua garganta nos atinja na hora certa. “Hail To The Victor” é
outra em que desfila a voz rouca de Leto, mas não passa de uma canção como
milhões de outras feitas por DJs ao longo dos últimos anos. Se é importante
seguir tendências para se manter entre os descolados de Los Angeles, Leto segue
essa cartilha à risca com sua música, embora saiba escolher personagens
interessantes para interpretar na telona.
Há pouca originalidade nas escolhas de Leto, mas America é coeso [o álbum todo é
costurado por coros de “Ô Ô Ô”] e, apesar de algumas letras mais sombrias, como
as do Depeche Mode, o tom geral do trabalho é positivo e animado, com muitas
opções de canções comercialmente interessantes. Sempre muito próximo da tecnologia,
Jared Leto justifica a presença pesada de recursos eletrônicos encarando-os
como um meio de usar o que estiver a disposição para chegar ao som desejado.
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